José Dumont


O ator paraibano José Dumont é um daqueles raros exemplos de talento nato. Nascido em Bananeiras, uma cidadezinha no interior da Paráiba, Dumont era um garoto muito pobre vivendo numa família extremamente humilde. Passou fome, como muitos de seus conterrâneos nordestinos, e assim como estes também não teve acesso à escola. Dumont aprendeu a ler e a escrever praticamente sozinho graças à música popular regional e à literatura de cordel. Chegou a ingressar no Exército e na Marinha Mercante. Na biografia "José Dumont: do Cordel às Telas", da coleção Aplauso lançada pela Editora Imprensa Oficial, o ator diz que em dado momento de sua vida miserável teve uma visão reveladora. Ele não revela qual foi essa visão, mas ela mudou o rumo de sua vida.

Seja ela qual for, o destino colocou o jovem Dumont no caminho das artes. Ele começou a atuar no teatro ainda no início dos anos de 1970. Em 1976 participou da montagem "O Sonho, Caso Especial", de Gianfrancesco Guarnieri, o que lhe abriu as portas para o cinema e nunca mais parar. Já no ano seguinte estreou na tela grande, no filme "Morte e Vida Severina", um musical de grande sucesso. No mesmo ano ainda apareceria em "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", longa de ficção que marcou também a estréia do diretor argentino Hector Babenco no Brasil. Seguiram-se a esse "Tudo Bem", de Arnaldo Jabor; "Se Segura, Malandro!", de Hugo Carvana; "Coronel Delmiro Gouveia", de Geraldo Sarno; e "Amor Bandido", de Bruno Barreto, entre muitos outros.

"Gaijin - Os Caminhos da Liberdade", dirigido por Tizuka Yamasaki, consolidou sua trajetória no cinema brasileiro. O filme recebeu cinco troféus Kikito no Festival de Gramado de 1980, incluindo o prêmio de melhor ator coadjuvante para José Dumont. No mesmo Festival de Gramado, no ano seguinte, Dumont novamente seria premiado - agora como melhor ator pelo migrante nordestino que interpreta em "O Homem que Virou Suco", de João Batista de Andrade, trabalho que também lhe garantiu o Candango no Festival de Brasília.



José Dumont, aliás, passou a colecionar vários prêmios desde então. Em 1985, durante o Festival de Havana, Cuba, foi escolhido como melhor ator por três filmes: "O Baiano Fantasma", de Denoy de Oliveira; "Avaeté", de Zelito Viana; e "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro. Outro Candago de melhor ator lhe foi concedido por seu trabalho em "A Hora da Estrela", de Suzana Amaral. Em Brasília e Miami foi preiado por "Kenoma", de Eliane Caffé - que mais tarde dirigiu "Narradores de Javé" e garantiu a Dumont prêmios nos festivais do Recife e Rio de Janeiro.

Lá se vão mais de três décadas e mais de 40 filmes na extensa carreira de José Dumont, todos com grande destaque: "A República dos Assassinos", de Miguel Farias Jr.; "Brincando nos Campos do Senhor", de Hector Babenco; "Os Trapalhões e o Mágico de Oróz" e "Os Trapalhões no Auto da Compadecida", ambos com a turma dos Trapalhões de Renato Aragão; "Policarpo Quaresma", de Paulo Thiago; "Abril Despedaçado", de Walter Salles. A lista parece interminável. Isso sem contar os inúmeros trabalhos na televisão, sejam eles novelas ou miniséries. E é certamente por isso que Dumont foi homenageado especial no Festival de Ceará em 2008. Um reconhecimento merecido por sua dedicação ao cenário audiovisual, o que o considou como um dos mais importantes atores do Cinema Brasileiro.

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