Nascido em 23 de outubro de 1815, na então Vila de São Francisco de Chagas da Barra do Rio Grande, hoje apenas Barra, na Bahia, João Maurício Wanderley é descendente de importante família holandesa. Seu pai, também chamado João Maurício Wanderley, descende de Gaspar van der Ley, coronel holandês, bastante próximo de Maurício de Nassau, o protagonista do período chamado Invasão Holandesa. Após a expulsão dos holandeses, Gaspar van der Ley prefere permanecer no Brasil, gerando uma série de descendentes, que se espalharam por todo o país. A grafia “Wanderley” é um aportuguesamento do sobrenome original holandês “van der Ley”, procedimento típico nos registros nacionais da época. João Maurício Wanderley, o pai, casa-se em 1808 com Francisca Antônia do Livramento, dando origem ao futuro Barão de Cotegipe, membro mais proeminente da família no Brasil, em 1815.
Após realizar seus estudos primários e preparatórios na Bahia, João Maurício Wanderley muda-se para Pernambuco, matriculando-se, em 1832, na então Faculdade de Direito de Olinda. Conclui seus estudos aos 22 anos de idade, tornando-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais no dia 6 de outubro de 1837, mesmo ano em que se formava, também em Olinda, provavelmente o maior de todos os juristas baianos: Teixeira de Freitas. Com o término do curso, retorna à Bahia, onde ocupa diversos cargos públicos, como juiz municipal em sua cidade natal, Vila da Barra, e curador-geral dos órfãos em Santo Amaro. Casa-se com Antônia Teresa de Sá Pita e Argolo, nobre brasileira, filha sucessora do Conde de Passé.
Logo em seguida, em 1841, João Maurício Wanderley dá início a sua longa carreira política, candidatando-se e sendo eleito para a cargo de deputado provincial. Já em 1843, alcança o posto de deputado geral, sendo eleito para cinco mandatos seguidos, até 1855. Em 1848, como chefe de polícia, na capital Salvador, tem importante função ao combater a chamada Revolução Praieira: durante a maior insurreição do Segundo Reinado na então província de Pernambuco ia de encontro à Monarquia, João Maurício Wanderley envia toda a força policial baiana, impedindo que a revolução atingisse a província.
Sua atuação de destaque na câmara dos deputados proporcionou sua nomeação para a presidência da província da Bahia, por meio de Carta Imperial de 21 de agosto de 1852. Preside a Bahia até 1855. No ano seguinte, é eleito senador, cargo em que permanece até a Proclamação da República. Ou seja, de 1856 a 1889, por mais de trinta anos, João Maurício Wanderley ocupa a mais alta câmara do Império brasileiro.
Nos anos em que foi senador, ocupa ainda diversos ministérios: é nomeado duas vezes Ministro da Marinha (1855 a 1856 e 1868 a 1870), duas vezes Ministro da Fazenda (1856 a 1857 e 1875 a 1878), duas vezes Ministro das Relações Exteriores (1875 a 1877 e 1885 a 1888) e uma vez Ministro da Justiça (1887) durante o Segundo Império. Em 1860, recebe o título do Imperador D. Pedro II, que iria consagrá-lo na história brasileira: torna-se o Barão de Cotegipe. Atinge o auge de sua carreira política em 20 de agosto de 1885, quando é escolhido Presidente do Conselho de Ministros (concomitantemente ao Ministério das Relações Exteriores), cargo que alçou João Maurício Wanderley à função equivalente à de Primeiro-Ministro. Ocupa ainda o cargo de administrador geral da Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, fundando o Instituto Pasteur e o Hospital N. S. das Dores, em Cascadura, para tratamento de tuberculosos.
Durante o seu gabinete como Primeiro-Ministro, em 1885, apesar do seu conservadorismo e simpatia pela escravidão, João Maurício Wanderley aprova a chamada Lei dos Sexagenários, proposta pelo gabinete anterior, presidido por José Antônio Saraiva. Por isso, a lei foi chamada de Lei Saraiva-Cotegipe. Pela lei, são considerados livres todos os escravos maiores de 60 anos. Em 1888, o Barão de Cotegipe é o único senador a votar contra a Lei Áurea, que trouxe o (tardio) fim da escravidão no país.
João Maurício Wanderley deixa o Senado logo em seguida e passa a ser o Presidente do Banco do Brasil. Ocupando tal cargo, vem a falecer no dia 13 de fevereiro de 1889, aos 73 anos, no Rio de Janeiro.
O Barão de Cotegipe deixou diversas obras publicadas, com destaque para as de temas da diplomacia e as referentes à produção agrícola. Além disso, apesar de sua vida ter sido caracterizada por sua atuação política, o Barão de Cotegipe tem importância na história do direito brasileiro, justamente pela Lei dos Sexagenários. Ironicamente, entretanto, não era o Barão um grande defensor da abolição dos escravos. Sua mais célebre citação refere-se aos seus dizeres à Princesa Isabel, quando da assinatura da recém-aprovada Lei Áurea: “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono”.
Comentários
Postar um comentário